Uma nova onda de empoderamento feminino está deixando os sutiãs no passado e levantando uma pergunta importante: existe desvantagem em deixar de usá-los?
Se você acompanha as mudanças no mundo da moda, já percebeu: 2023 foi o ano em que o conceito de “menos é mais” realmente ganhou força — e não estamos falando só de estilo. A moda sem calças, os vestidos transparentes e o uso ousado da pele como acessório revelaram algo mais profundo: um movimento por conforto, autenticidade e liberdade. Dentro desse contexto, dizer adeus ao sutiã não é apenas uma escolha estética, é um posicionamento.
E não é uma tendência passageira. A decisão de abandonar o sutiã vem se construindo há anos, alimentada por uma geração que busca viver sem amarras, literalmente e simbolicamente.
O ciclo (quase sempre) frustrante dos sutiãs
Se você já usou sutiã em alguma fase da vida, provavelmente conhece o vai e vem de sensações: começa com o primeiro modelo de ginástica na pré-adolescência, passa pelos push-ups da adolescência (que ninguém pediu), segue com os bralettes descolados da fase universitária e, em algum momento, chega o questionamento: “Preciso mesmo disso?”. E aí vem a resposta: não, obrigada.
Essa desconstrução vem sendo cada vez mais compartilhada, especialmente entre jovens mulheres. Afinal, quem disse que beleza tem que doer? A pandemia de COVID-19 apenas acelerou essa percepção. Com a vida em casa, o conforto virou prioridade e os sutiãs perderam espaço.
Uma pesquisa da YouGov, de fevereiro de 2021, apontou que 34% das mulheres aproveitaram o confinamento para abandonar o sutiã, e 20% começaram a usá-lo bem menos. Entre mulheres de 18 a 24 anos, esse número chegou a 66%. Um claro sinal de que as novas gerações estão redesenhando padrões de corpo e comportamento.
A jornalista Eir Nolsoe, que analisou os dados, destacou: “Dois terços das mulheres entre 18 e 24 anos dizem que estão usando sutiã com menos frequência.”
Ashleigh Cunningham, de 27 anos, reforçou esse sentimento em entrevista ao The Guardian:
“Quando todos começaram a voltar ao trabalho, eu não queria mais usar sutiã. Então, usei tops curtos em vez de um sutiã com aro. Acho mais confortável.”
Mais do que moda: uma escolha com raízes profundas
Para muitas, o ato de não usar sutiã vai além da estética ou do conforto físico. Ele se conecta a algo maior: a luta pela autonomia sobre o próprio corpo. E esse movimento não começou agora.
Lá nos anos 1960, nos Estados Unidos, surgiu o famoso (e polêmico) mito da queima de sutiãs, ligado à segunda onda do feminismo. Ainda que a “queima” em si nunca tenha acontecido, o gesto virou símbolo de resistência e libertação.
Décadas depois, campanhas como a #FreeTheNipple, iniciada em 2012, reforçaram a ideia de que o corpo feminino não deve ser censurado ou moldado por padrões impostos. O debate ganhou ainda mais força em tempos pós-Roe v. Wade, onde o controle sobre o próprio corpo se tornou questão política global.
Florence Pugh, por exemplo, apareceu com vestidos completamente transparentes em estreias de filmes, enviando uma mensagem clara: ser mulher é escolher como existir, com ou sem sutiã — no tapete vermelho ou no dia a dia.
E a indústria da moda íntima? Está mudando também.
Desde o fim dos desfiles da Victoria’s Secret, em 2019, a estética natural e sem esforço vem dominando as passarelas e vitrines. O push-up, antes símbolo de “sexy”, deu lugar aos tecidos leves, formas livres e modelos que priorizam o bem-estar — e não só o olhar alheio.
Marcas como Parade, Savage X Fenty e True & Co. têm apostado em sutiãs inclusivos e adaptáveis, pensados para diferentes tipos de corpos e preferências. A ideia agora é outra: vestir algo porque você quer, e não porque “deve”.
Tá, mas tem algum problema em não usar sutiã?
A resposta curta: depende de você e do seu corpo.
Segundo a jornalista Kelsey Mulvey, da Real Simple, deixar de usar sutiã pode contribuir para a flacidez com o tempo, principalmente em mulheres com seios maiores. “À medida que as mulheres envelhecem, os ligamentos que sustentam o tecido mamário enfraquecem, o que pode contribuir para a flacidez”, explica.
Além disso, se você tem seios a partir do tamanho C, o uso contínuo de sutiãs com suporte pode prevenir dores nas costas e no pescoço. Mas atenção: isso não significa que você precisa se render ao desconforto do aro.
Bralettes estruturados e sutiãs esportivos são ótimas opções para quem quer conforto e suporte ao mesmo tempo. A Parade, por exemplo, tem um guia inclusivo de modelos para todos os corpos — vale a pesquisa.
A escolha é sua. E só sua.
Não usar sutiã não é rebeldia, preguiça ou moda — é uma decisão pessoal que reflete uma geração que valoriza a autenticidade e o autocuidado. Como escreveu a usuária do Reddit @majesticalexis:
“Quando a melhor parte do seu dia é chegar em casa do trabalho e tirar o sutiã, talvez seja hora de reconsiderar a ideia de usar um.”
E você, o que seu corpo está te dizendo hoje?