Nascidos na era dos tablets e das pandemias, os pequenos da Geração Alfa enfrentam desafios emocionais inéditos — e tudo isso antes mesmo de crescerem.
Quem São os Novos Nativos Digitais?
A Geração Alfa é formada por crianças nascidas a partir de 2010 — a primeira geração 100% nascida no século XXI. Muitas delas ainda estão engatinhando ou no ensino fundamental, mas já nasceram cercadas por tablets, assistentes de voz e redes sociais. Enquanto suas datas de nascimento ainda são discutidas por especialistas, estima-se que o grupo abranja crianças nascidas até 2025. Alguns também a apelidam de “Geração C”, em alusão à pandemia de COVID-19, um marco histórico que afetou profundamente seu início de vida.
Mas será que essas gerações são reais ou apenas rótulos? Bem, elas são construções sociais, categorias criadas para nos ajudar a entender comportamentos coletivos. Mais do que datas, o que define uma geração são as experiências compartilhadas, como:
- Origem familiar
- Classe social e renda
- Gênero e sexualidade
- Raça, etnia e religião
- Condições de saúde mental e física
- Estilo de vida, local de trabalho e parentalidade
E nesse contexto, a Geração Alfa vive uma infância marcada por elementos nunca antes combinados de forma tão intensa.
Crescendo em um Mundo de Crises e Telas
Os pequenos da Geração Alfa estão sendo criados em um ambiente radicalmente diferente daquele vivido por seus pais Millennials ou irmãos da Geração Z. Enquanto o mundo enfrentava lockdowns globais, ensino remoto e incertezas econômicas, eles estavam aprendendo a andar, a falar e a lidar com a vida.
Tudo isso contribuiu para que essa geração desenvolvesse uma relação ainda mais próxima da tecnologia e das comunicações digitais. Mas, ao mesmo tempo, também os expôs a níveis inéditos de isolamento, ansiedade e estímulos constantes, o que pode afetar profundamente sua saúde emocional a longo prazo.
O Que Podemos Esperar da Geração Alfa?
Embora os dados demográficos completos ainda estejam se formando, já é possível prever algumas tendências importantes:
- Mais diversidade racial e étnica: Em países como os Estados Unidos, menos da metade das crianças menores de 15 anos são brancas não hispânicas.
- Menor número de nascimentos: A queda nas taxas de natalidade, especialmente durante a pandemia, indica que a Geração Alfa será menor que as anteriores.
- Maior abertura sobre saúde mental: Como são filhos de Millennials e Gen Z, que já enfrentam e falam sobre problemas emocionais, os Alfa devem crescer com menos estigma sobre terapia e autocuidado psicológico.
Saúde Mental em Alerta: O Impacto do Isolamento e da Conexão Excessiva
Solidão precoce e desconexão emocional
A pandemia impôs regras duras à socialização: distanciamento, máscaras, cancelamento de atividades escolares e ausência de contato com familiares. Muitas crianças passaram meses sem ver colegas, professores ou parentes. Isso pode ter criado lacunas importantes no desenvolvimento social, levando a quadros de ansiedade social ou dificuldade em lidar com o mundo fora das telas.
Tecnologia como companhia — e risco
A relação da Geração Alfa com a tecnologia é intensa e precoce. Para muitos, o primeiro contato com o mundo acontece via YouTube Kids, TikTok, jogos online ou assistentes como Alexa. O problema é que essa conexão contínua também traz efeitos colaterais:
- Dependência de telas
- Bullying virtual e exposição a conteúdo tóxico
- Comparações com influenciadores
- Perfeccionismo digital e medo de exclusão
- Fenômenos como “doomscrolling” e fadiga informativa
Embora aplicativos de meditação e terapia online sejam recursos modernos e úteis, eles também representam o desafio de lidar com problemas reais de saúde mental por meio de soluções digitais nem sempre personalizadas.
Emoções à Flor da Pele: Ansiedade, Depressão e Além
Estudos realizados durante a pandemia revelaram um dado preocupante: cerca de 1 em cada 4 jovens no mundo sentiu-se deprimido no primeiro ano da crise. E 1 em cada 5 relatou níveis significativos de ansiedade. Esses índices são praticamente o dobro dos que existiam antes de 2020 — e especialistas acreditam que a tendência é de alta.
A Geração Alfa pode estar crescendo com mais acesso à informação sobre saúde mental, mas também sob uma carga emocional inédita. O desafio será equilibrar esse conhecimento com o suporte adequado.
Infância Não é Imune: Os Desafios da Saúde Mental Infantil
Muitos fatores podem abalar o bem-estar emocional das crianças. Entre os principais estão:
- Abuso ou negligência, que causam traumas de longa duração
- Instabilidade familiar, principalmente associada à pobreza e insegurança alimentar
- Bullying, tanto presencial quanto online
- Experiências traumáticas ou perdas, que impactam diretamente a forma como a criança vê o mundo
Transtornos Mentais Mais Comuns na Infância
- TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade): Diagnóstico comum em mais de 9% das crianças nos EUA
- Ansiedade: Atinge cerca de 9% das crianças entre 3 e 17 anos
- Depressão: Presente em mais de 4% das crianças nessa faixa etária
- Outros transtornos comportamentais ou de desenvolvimento também afetam 1 a cada 6 crianças
Como a Terapia Pode Ajudar Desde Cedo
A boa notícia é que a psicoterapia infantil tem se mostrado extremamente eficaz. Há várias abordagens indicadas:
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Ajuda a criança a entender e modificar pensamentos negativos
- Ludoterapia: Utiliza brincadeiras como linguagem para expressar emoções
- Terapia Assistida por Animais: Ajuda no desenvolvimento da empatia e no alívio de traumas
- Arteterapia: Estimula a expressão emocional por meio da arte
- Terapia Familiar: Envolve pais e responsáveis no processo de cuidado emocional
Cada criança é única — e o importante é que pais e educadores estejam atentos aos sinais de sofrimento psíquico, buscando ajuda profissional o quanto antes.
O Futuro Está em Construção — e Precisa de Cuidado
A Geração Alfa representa o futuro da nossa sociedade. Mas para que esses pequenos cresçam emocionalmente saudáveis, será preciso oferecer mais do que tecnologia e educação formal. Será necessário empatia, escuta ativa, espaço para erros e, acima de tudo, acolhimento emocional.
Enquanto ainda estão se formando, essas crianças precisam de adultos dispostos a ensiná-las como cuidar da mente tanto quanto do corpo — e isso começa com informação, prevenção e afeto.