Nem solteiros, nem casados — a nova geração está criando um caminho próprio que valoriza a liberdade, a autonomia e relações fora dos moldes românticos convencionais.
Em tempos onde o amor romântico está sendo questionado como nunca antes, novas formas de se relacionar — ou até de não se relacionar — estão emergindo com força, principalmente entre os jovens da Geração Z e da Geração Alpha. Uma dessas tendências, ainda pouco compreendida por muitos, é a agamia.
Diferente do que estamos acostumados a ver nos filmes, músicas e redes sociais, esse novo estilo de vida rompe completamente com a ideia tradicional de namoro, casamento e vida a dois. E não se trata de uma fase ou de uma simples “desculpa” para não se envolver. É uma escolha consciente, política e emocional.
O Que é Agamia? E Por Que os Jovens Estão Falando Tão Sério Sobre Isso?
A palavra agamia vem do grego — “a” (sem) e “gamos” (casamento ou união íntima) — e define um modo de vida em que a pessoa não busca e nem deseja qualquer tipo de relacionamento romântico convencional.
Quem se identifica com esse modelo não está solteiro por falta de opção, nem está esperando “a pessoa certa”. Essas pessoas optam conscientemente por não ter um parceiro fixo, seja em relacionamentos monogâmicos ou poliamorosos. Elas não querem casamento, namoro ou união estável. Elas simplesmente não querem compromisso romântico.
Mas atenção: isso não significa que sejam assexuais. Muitas pessoas agâmicas têm vida sexual ativa, se envolvem emocionalmente, criam laços profundos com amigos, colegas ou parceiros casuais — só não veem o amor romântico como objetivo central da vida.
“Não é Sobre Evitar o Amor. É Sobre Escolher a Liberdade.”
Para quem pratica a agamia, o foco está em viver de forma plena sem depender emocionalmente de um relacionamento tradicional. Como explica a sexóloga Lucía Jiménez, essas pessoas acreditam que relacionamentos românticos podem limitar a expressão pessoal e afetar decisões importantes em outras áreas da vida.
“Parte da premissa de que ter parceiros ou vínculos românticos condiciona a expressão vital da pessoa, modulando seu comportamento em outros contextos e com outras pessoas”, afirma Jiménez.
Em outras palavras, a ideia de estar em um relacionamento amoroso pode afetar a forma como nos comportamos com amigos, no trabalho ou até com nós mesmos — algo que a Geração Z está começando a questionar.
Solteirice Por Escolha: A Nova Cara da Liberdade
Diferente da solteirice tradicional, que muitas vezes está ligada à espera por um novo amor, a agamia se apresenta como uma filosofia de vida. É sobre romper com a pressão social de formar casal, de seguir um roteiro pré-estabelecido que inclui namoro, casamento, filhos, e vida a dois.
Nesse novo modelo, a prioridade está em explorar vínculos diversos, sem hierarquia e sem a obrigação de moldar a vida em função de outra pessoa.
A Revolução Silenciosa do Amor: Uma Escolha Coletiva da Geração Z?
Ainda não há estatísticas concretas sobre quantas pessoas se identificam como agâmicas — o termo é relativamente novo —, mas os sinais de mudança são nítidos. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística da Espanha (INE), no final de 2024, o país registrava 14,9 milhões de solteiros contra 20,1 milhões de casados. A distância entre esses dois grupos está diminuindo, e a tendência de não se casar está aumentando ano após ano.
A professora Heloísa Buarque de Almeida, do Departamento de Antropologia da USP, vê nisso uma transformação profunda nos modos de amar e se relacionar. Para ela, essa nova geração está rompendo com as normas antigas e buscando formas mais livres de viver e se conectar com os outros.
“Houve uma mudança na forma como lemos o amor, a família e o mundo”, afirma.
Relacionamentos Sem Compromisso: Revolução ou Medo?
No passado, o medo era da solidão. Hoje, o receio parece ser o oposto: ter que se encaixar em moldes ultrapassados de relacionamento.
E aqui entra um ponto importante: a rejeição ao compromisso não significa ausência de afeto ou conexão. O que muda é o formato. Os laços continuam existindo — mas de forma mais fluida, sem rótulos ou pressões.
A agamia surge como uma proposta radical de liberdade afetiva, onde amizades, companheirismos e conexões pontuais passam a ter tanto valor quanto um namoro ou casamento tradicional.
Agamia é o Futuro? Ou Só Mais uma Tendência?
Ainda é cedo para dizer se a agamia vai se tornar mainstream ou se continuará como uma filosofia de nicho. Mas uma coisa é certa: ela reflete uma mudança real na forma como as novas gerações enxergam o amor, o compromisso e a própria liberdade.
Em tempos em que as prioridades pessoais, a saúde mental e a autonomia ganham destaque, não é surpresa que muitos jovens estejam dizendo “não, obrigado” ao script tradicional do romance.
Se antes o amor romântico era visto como o auge da realização pessoal, hoje ele está dividindo espaço — e, em muitos casos, sendo substituído — por outras formas de afeto, liberdade e sentido de vida.
Curtiu entender mais sobre a agamia?
Esse é só o começo de um debate muito maior sobre o que significa amar, se relacionar e ser livre em pleno século 21. Talvez, no fim das contas, o novo amor seja mesmo a autonomia.
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