Sardinha no topo? Jovens estão deixando o caviar de lado e transformando o simples em sofisticado com criatividade, propósito e embalagens estilosas.
Quando se fala em luxo gastronômico, o caviar ainda carrega a coroa — símbolo de requinte, raridade e ostentação. Mas para a Geração Z, esse brilho tradicional já não seduz como antes.
Para os jovens nascidos entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000, o conceito de sofisticação está ganhando novos contornos — e, surpreendentemente, está sendo servido em latas de sardinha e atum.
Sim, você leu certo. O que antes era considerado “comida simples de despensa” virou hype nas redes sociais, especialmente no TikTok. A hashtag #tinnedfish já ultrapassou 57 milhões de visualizações. O que está por trás desse fenômeno?
Um mix de estética bem pensada, ética de produção e o charme da nostalgia repaginada.
No fim das contas, o caviar também não deixa de ser uma conserva de peixe — só que com pedigree. Produzido a partir das ovas de diferentes espécies de esturjão, ele sempre foi sinônimo de raridade, tanto pelo processo de obtenção quanto pelo preço.
Mas com os avanços da aquicultura, o caviar se tornou mais acessível, ainda que mantenha seu status de iguaria. A Geração Z, no entanto, parece estar menos interessada em pagar por status e mais em consumir com propósito e estilo.
Enquanto o caviar tenta se manter como sinônimo de exclusividade, o peixe enlatado vem sendo elevado à categoria de gourmet, embalado com storytelling e estética minimalista.
Um ótimo exemplo disso é a marca Fishwife, que produz conservas éticas, liderada por mulheres, com embalagens artisticamente desenhadas.
Uma simples lata de atum pode chegar a valer mais de 20 euros — e os jovens pagam com gosto, porque ali há algo além do alimento: há identidade, valores e pertencimento.
“A geração Z quer luxo, mas precisa pagar suas contas. O peixe enlatado preencheu esse nicho perfeitamente”, destacou um relatório que analisou o crescimento dos enlatados premium nos Estados Unidos.
Essa fala resume bem o espírito da geração que cresceu entre crises econômicas e redes sociais: pragmática, criativa e visual. Luxo, para eles, não é mais sobre ostentação silenciosa em um restaurante francês, e sim sobre significado, consciência e estilo pessoal.
E nem adianta dizer que é só uma moda passageira. Esse novo luxo é também uma forma de resgate: a geração Z está se conectando com a culinária de suas famílias, valorizando tradições de forma moderna, atualizando hábitos que antes eram considerados simples ou até ultrapassados.
Uma verdadeira resignificação do ordinário, agora com curadoria estética.
Nos Estados Unidos, restaurantes de alto padrão já estão reformulando seus cardápios para incluir tábuas de conservas artesanais, acompanhadas de pães rústicos e azeites infusionados. A cena é elegante, cool e nada careta.
E o mais curioso é que tudo isso vem sendo impulsionado pela força das redes sociais, onde a imagem vale tanto quanto o sabor.
Essa mudança mostra que a Geração Z está reescrevendo as regras do consumo de luxo.
Para eles, não é só sobre o que está no prato, mas também sobre o impacto ambiental, a representatividade por trás da marca, o design da embalagem e a história que ela conta.
Se o caviar foi a estrela do passado, agora a sardinha enlatada — com toque gourmet — brilha sob os holofotes da nova geração.