Como os Filhos dos Millennials Estão Redefinindo o Futuro com Tela na Mão e Inteligência Artificial na Rotina

A geração Alfa, formada pelos filhos dos millennials, cresce com a tecnologia na palma da mão e a inteligência artificial como companhia. Descubra como essa geração já está moldando o futuro.

Nascidos na era dos tablets e criados em meio à pandemia, os jovens da Geração Alfa estão crescendo em um mundo hiperconectado — e isso muda tudo, da educação às emoções.

Se você acha que a Geração Z ainda representa os adolescentes de hoje, é hora de atualizar o discurso. A nova protagonista da infância e pré-adolescência é a Geração Alfa — formada por crianças nascidas a partir de 2010, que já chegam ao mundo com o dedo no touchscreen e o cérebro moldado por algoritmos.

Essa galera é filha dos millennials, aquela geração que cresceu com a internet discada e amadureceu com o boom das redes sociais. E agora, como pais, entregam aos filhos um mundo onde a tecnologia não é apenas uma ferramenta, mas uma extensão da própria identidade.

Foto: Xataka

De acordo com o economista Joe Nellis, da Cranfield Business School, no Reino Unido, a Geração Alfa começa com o lançamento do primeiro iPad, em 2010. Não por acaso. Desde o berço, esses jovens foram expostos a um universo visual e digital que transforma profundamente como eles aprendem, se relacionam e entendem o mundo.

Hoje, enquanto os Z estão terminando a faculdade ou entrando no mercado de trabalho, os Alfas estão aprendendo a ler — pelo YouTube, por assistentes de voz e, muitas vezes, com o auxílio de inteligência artificial.

Esses jovens nativos digitais não conhecem um mundo sem smartphones, wi-fi e streaming. Tudo é sob demanda, instantâneo e visual. O conceito de esperar algo, seja uma resposta ou um download, simplesmente não faz sentido para eles. Isso muda profundamente suas expectativas sociais, emocionais e acadêmicas.

Segundo estudos da empresa australiana McCrindle, especializada em tendências sociais, a Geração Alfa pode se tornar a maior da história, ultrapassando a marca de 2 bilhões de pessoas até o fim de 2024. E o detalhe mais impactante: a maioria nascerá em países em desenvolvimento, o que mostra um cenário global em transformação — tanto tecnológica quanto social.

Joe Nellis aponta ainda que essa geração tem potencial para viver melhor que seus pais e avós, graças aos avanços em educação, saúde, sustentabilidade e conectividade. Um otimismo fundamentado em dados, mas que precisa ser equilibrado com atenção aos desafios únicos que eles enfrentam.

O psicólogo uruguaio Roberto Balaguer oferece uma visão complementar. Segundo ele, os Alfas são criados em lares com modelos parentais mais distribuídos, onde pai e mãe compartilham cuidados e buscam mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Há mais presença, mais vínculo — ao menos em tempo físico.

O problema? A mesma tecnologia que aproxima pode também afastar emocionalmente. Balaguer alerta para o risco de que os pais estejam mais presentes de corpo, mas distraídos mentalmente, dividindo a atenção com notificações, e-mails e redes sociais. Isso compromete a qualidade do vínculo emocional, fundamental para o desenvolvimento psicológico da criança.

E se isso já seria um desafio em tempos normais, imagine na era pós-COVID-19. A pandemia mudou a forma como a Geração Alfa viveu seus primeiros anos. Isolamento social, aulas online, contato físico restrito… tudo isso reforçou o ambiente digital como o principal espaço de convivência e aprendizado.

É nesse cenário que a inteligência artificial entra com força. Brinquedos com IA, tutores virtuais, aplicativos de autocuidado e educação personalizada estão sendo cada vez mais comuns na rotina dessa geração. Diferente das anteriores, os Alfas não verão a IA como novidade — para eles, será apenas… normal.

Essa exposição precoce e constante à IA pode trazer ganhos, como desenvolvimento emocional assistido, ensino sob medida e uma preparação mais realista para o mercado de trabalho do futuro. Mas também levanta questões importantes: até que ponto o contato humano será valorizado? Como será a empatia de quem cresceu ouvindo mais assistentes virtuais do que amigos reais?

Outro ponto crítico é a concentração. Acostumados com vídeos curtos, interações rápidas e múltiplas telas, muitos Alfas demonstram dificuldade em manter o foco por longos períodos. Isso se conecta ao imediatismo — um traço que pode dificultar processos mais lentos, como escuta ativa, resiliência e pensamento crítico.

No fim das contas, a Geração Alfa é reflexo de quem os cria e do mundo onde crescem. Filhos de millennials e irmãos mais novos da Z, eles absorvem influências das duas gerações anteriores, tanto nos valores quanto no comportamento.

A diferença? Eles estão vivendo tudo isso em tempo real, com um mundo que muda a cada atualização de sistema. Por isso, mais do que prever o futuro dessa geração, o desafio está em construí-lo junto com ela — respeitando sua natureza digital, mas sem abrir mão das conexões humanas que nos tornam verdadeiramente vivos.

Porque, por mais evoluída que seja uma IA, ela ainda não sabe dar um abraço.

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