Muito além da bola rolando, o futebol agora é também uma ferramenta de expressão feminina, identidade e transformação cultural entre a Geração Z e Alpha.
Se em algum momento o futebol foi visto como um território exclusivamente masculino, esse tempo definitivamente ficou no passado. Hoje, as meninas estão ressignificando o jogo, não só dentro das quatro linhas, mas também nas ruas, nas passarelas e, claro, nos feeds do TikTok e Instagram. Em uma reviravolta poderosa, a estética tradicionalmente bruta do futebol está sendo reconstruída com sutileza, ousadia e uma pitada de feminilidade — e essa mudança diz muito sobre quem está tomando as rédeas da moda e da cultura pop neste momento histórico.
A revolução fashion do futebol ganhou corpo com a ascensão da “blokecore girl”, onde camisetas de clubes, tênis retrô e jaquetas esportivas se misturam com peças mais leves e personalizadas, criando um visual autêntico que fala diretamente com a Geração Z. Enquanto o mundo celebrava momentos marcantes como a vitória das Lionesses na UEFA em 2022 e eventos grandiosos como a Eurocopa 2024, uma transformação silenciosa se desenrolava no armário das jovens — e ela tinha tudo a ver com autoexpressão.
Não por acaso, 2023 ficou conhecido como “o ano da menina”: o fenômeno Barbie, a força inabalável dos Swifties e os trends como girl math, girl dinner e hot girl walk marcaram a cultura digital. E o universo esportivo, especialmente o futebol, não escapou dessa feminização criativa. Agora, torcer, jogar ou apenas incorporar o estilo futebolístico faz parte de um novo repertório de identidade das garotas — e isso é poderoso.
Estilo com propósito: da arquibancada às passarelas
Marcas e criadores de moda perceberam essa virada e começaram a reagir. O estilista Conner Ives, por exemplo, passou a redesenhar camisas de futebol com babados e recortes únicos, transformando-as em verdadeiras peças fashion colecionáveis. Enquanto isso, parcerias como Adidas x Wales Bonner Sambas conquistaram o público feminino, mesmo sendo originalmente feitas para os gramados. Já nomes como Hattie Crowther estão indo além, explorando o lado mais sombrio da cultura torcedora feminina em coleções provocativas.
Essa nova moda não ficou restrita às vitrines ou editoriais: ela invadiu o street style com figuras como Tolami Benson, namorada do craque Bukayo Saka, que brilhou na abertura da Euro 2024 com uma jaqueta de couro personalizada e uma blusa da Diesel, queridinha da Geração Z. Celebridades como Dua Lipa, Kim Kardashian e Addison Rae também aderiram ao visual blokecore, provando que essa tendência é muito mais do que momentânea — ela está moldando o presente da cultura fashion global.
TikTok, futebol e o uniforme oficial da geração Z
Se há um termômetro real para medir o impacto de uma tendência entre os jovens, esse é o TikTok. Lá, os vídeos com meninas estilizando camisas de futebol acumulam milhões de visualizações, mostrando como elas transformam essas peças em looks únicos e cheios de atitude. Seja torcendo para o FC Barcelona, seja representando o Liverpool com orgulho, o que vale é o estilo, a criatividade e o sentimento de pertencimento.
Essa “girlificação” da moda futebolística tem um significado muito maior do que aparenta. Ela não se limita à estética; é um movimento silencioso de empoderamento feminino dentro de um território que, por muito tempo, foi excludente. E os números confirmam: em 2023, houve um aumento de mais de 15 pontos no número de garotas da Geração Z que se declaram fãs de esportes em comparação com o ano anterior. Além disso, gestos simbólicos como o da seleção masculina da Dinamarca — que recusou aumento salarial para garantir igualdade salarial básica às colegas da seleção feminina — mostram que a mudança está acontecendo em todas as direções.
Futebol, moda e identidade: uma fusão que representa o agora
Enquanto a Geração Z e Alpha constroem suas identidades com mais liberdade e consciência, elas transformam o que antes era uniforme em peças de empoderamento. Hoje, camisas de futebol, tênis Samba e meias até o joelho se tornaram não apenas tendência, mas plataformas de expressão pessoal, cultural e até política.
A beleza dessa nova era é que ela transcende o esporte. Misturando elementos dos uniformes tradicionais com toques modernos e ousados, a moda futebolística de hoje reflete a fluidez de gênero, a autenticidade e a criatividade que são marca registrada das novas gerações. É uma moda que questiona, que ocupa espaços e que transforma símbolos antigos em novas bandeiras de luta — ou, melhor dizendo, de estilo.
O que vem por aí?
A verdade é que a fusão entre futebol e moda feminina não é uma tendência passageira. Ela representa uma nova linguagem de autoafirmação, onde cada camisa usada diz algo sobre quem a veste, sobre seu lugar no mundo e sobre a cultura que está ajudando a moldar. Essa transformação vai continuar, ganhando força a cada campeonato, a cada lançamento e a cada publicação viral.
E no fim das contas, talvez o que estamos vendo não seja apenas uma mudança de estilo, mas uma mudança de era — onde as meninas deixam de ser torcedoras coadjuvantes para se tornarem protagonistas dentro e fora dos campos.
