A dura realidade que está fazendo a Geração Z e Alpha desistirem do mercado de trabalho (antes mesmo de entrar nele)
A imagem de um jovem recusando uma vaga de trabalho pode soar estranha para algumas gerações. Afinal, “trabalho é oportunidade”, certo? Mas e quando o problema não é a falta de vontade, e sim a impossibilidade de bancar o próprio emprego?
Parece contraditório, mas essa é a realidade enfrentada por milhões de jovens da Geração Z e da Geração Alpha. De acordo com uma pesquisa realizada no Reino Unido com mais de 2 mil pessoas entre 16 e 25 anos, muitos estão sendo obrigados a dizer “não” para empregos que conquistaram com esforço, após várias entrevistas — simplesmente porque não conseguem arcar com os custos iniciais.
Trabalhar Sai Caro: Transporte, Uniforme e Ansiedade
O levantamento revela que a alta no custo de vida está esmagando as esperanças profissionais de jovens talentos. Desde o valor do transporte público até a compra de uniformes obrigatórios ou roupas formais, esses obstáculos financeiros estão tornando inviável o ingresso no primeiro emprego.
Mais grave ainda: 1 em cada 10 jovens afirma não ter como pagar os custos básicos para começar a trabalhar, mesmo após ter sido aceito para a vaga. O resultado? Oportunidades desperdiçadas, sonhos engavetados e um ciclo frustrante de insegurança.
“Pensar em dinheiro me deixa ansioso”
A situação vai além do bolso — ela atinge diretamente a saúde mental. O relatório anual do Prince’s Trust, NatWest Youth Index 2024, revelou que mais da metade dos jovens entrevistados teme nunca alcançar a tão sonhada estabilidade financeira. E pior: só de pensar em dinheiro, mais de um terço já sente um pico de estresse.
Esse cenário foi analisado também pela revista Fortune, que chamou atenção para as “consequências drásticas” do clima econômico atual sobre o bem-estar emocional e a autoconfiança dos jovens. A falta de perspectiva está drenando o ânimo dessa geração, e isso afeta diretamente sua relação com o trabalho e a construção de um futuro.
Saúde Mental e Carreira: Um Círculo Vicioso
Jonathan Townsend, diretor-executivo do Prince’s Trust, explicou o dilema: a saúde mental e o emprego estão interligados de forma perigosa, criando um ciclo no qual um prejudica o outro. Jovens com baixa autoestima ou em sofrimento psíquico encontram mais barreiras para entrar no mercado — e, sem emprego, esses problemas se intensificam.
O estudo mostra que:
- 40% dos jovens relataram ter problemas de saúde mental;
- 1 em cada 3 tem medo de que isso os impeça de alcançar suas metas;
- 20% faltaram à escola ou ao trabalho no último ano;
- 18% se sentiram sobrecarregados demais para se candidatar a vagas;
- E 12% não conseguiram lidar com entrevistas de emprego.
Esses dados revelam uma geração exausta, pressionada e sem suporte.
A Nova Ambição: Saúde Mental Acima de Promoções
Diante desse cenário, muitos jovens estão adotando o que especialistas chamam de “ambição silenciosa”. Em vez de buscar cargos altos a qualquer custo, estão priorizando qualidade de vida, equilíbrio e bem-estar emocional.
Uma pesquisa feita em 2023 com jovens trabalhadores dos Estados Unidos confirma esse movimento. 62% preferem se manter onde estão em vez de correr atrás de promoções estressantes. E 57% só aceitam mudanças de cargo se houver equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
Ou seja: eles não são preguiçosos, nem desinteressados — são apenas jovens conscientes, tentando sobreviver em um sistema que, muitas vezes, cobra demais e entrega de menos.
É Hora de Olhar Para Eles com Mais Empatia
A narrativa de que “basta querer” para ter sucesso não faz mais sentido diante de um mundo onde até o transporte para o trabalho virou um luxo. As novas gerações estão enfrentando desafios inéditos, e o mínimo que podem esperar é compreensão, políticas públicas mais justas e apoio emocional.
Em vez de julgar, talvez seja hora de escutar, acolher e adaptar o mercado de trabalho a uma nova realidade — onde o talento não fique de fora apenas por falta de dinheiro para comprar uma roupa social.