Ator e empresário desmistifica o empreendedorismo moderno, questiona a cultura do imediatismo e aponta os reais desafios de quem quer fazer a diferença no mundo dos negócios.
Quando você pensa em empreender, o que vem à sua cabeça? Abrir um MEI, emitir nota fiscal, virar chefe de si mesmo? Para Felipe Titto, ator, empresário e figura presente no universo de startups e investimentos, essa visão é rasa demais.
Em entrevista ao programa No Lucro, da CNN, ele foi direto ao ponto: “Você ter um CNPJ não te transforma, não te faz empreendedor.”
Essa fala, forte e certeira, desconstrói uma crença muito popular entre os jovens, especialmente Geração Z e Geração Alpha, que associam o ato de empreender apenas à formalização.
Para Titto, o verdadeiro empreendedor é um resolvedor de problemas, alguém que pode, inclusive, atuar como colaborador de uma empresa — desde que tenha mentalidade ativa, criativa e engajada na solução de desafios.
“Um empreendedor, na tradução literal, é o resolvedor de problema. Você pode muito bem empreender sendo colaborador de um CNPJ de outra pessoa”, completou Titto.
Da Arte ao Mundo dos Negócios: Uma Transição com Propósito
Felipe começou sua trajetória sob os holofotes da TV, mas sua verdadeira virada foi ao entrar no mundo do empreendedorismo com propósito.
Hoje, com 38 anos, ele é sócio de diversas empresas e participou da sétima temporada do Shark Tank Brasil, programa que revela novos talentos e ideias inovadoras do mercado.
“Eu devo tudo o que eu tenho à arte. Literalmente, tudo o que eu tenho. (…) O ator vai vir primeiro a vida inteira. Eu fui criado na arte.”
É essa conexão com a comunicação, a sensibilidade e a vivência artística que ele considera diferencial em sua atuação como empresário. Para ele, empreender não é apenas assinar contratos — é comunicar bem, conhecer seu público e acreditar em si.
“Sempre parti da premissa de que ninguém nunca vai vender meu peixe melhor do que eu. Eu me conheço há trinta e oito anos.”
Essa mentalidade de autoconfiança e autorresponsabilidade é algo que ele defende como pilar para qualquer jovem que deseje trilhar um caminho empreendedor de verdade — seja com ou sem um CNPJ em mãos.
Geração Z na Mira: Choques, Comodidades e Desafios Reais
Um dos momentos mais provocativos da entrevista foi quando Felipe Titto comentou sobre as dificuldades geracionais no ambiente de trabalho.
Segundo ele, há um abismo entre o imediatismo promovido pela tecnologia e as demandas reais do mercado.
“Esse choque de geração está cada vez mais forte. E a culpa não é da geração. A culpa é da tecnologia, da facilidade que essa galera teve (…). É uma série de comodidades que foi fragilizando a geração que sucede a nossa.”
Ele acredita que, apesar de a Geração Z ter muitas qualidades, é necessário trabalhar a resiliência, algo que vem sendo deixado de lado na era do “tudo em um clique”.
Na sua visão, muitos jovens desistem na primeira dificuldade e isso se torna um obstáculo no mundo real dos negócios.
“Eu prefiro pegar um cara mais velho, que precisa do trabalho, e ter que ensinar esse cara, do que pegar um cara que vem com a expertise e tal, mas no primeiro pico que der ele vai falar: ‘Não, está demais pra mim’ e vai me abandonar.”
A fala levanta uma discussão importante: Será que estamos preparando os jovens para empreender com propósito e responsabilidade, ou apenas os incentivando a ‘parecer’ empreendedores nas redes sociais?
O Que Realmente Significa Ser Empreendedor?
Empreender, na perspectiva de Felipe Titto, é resolver problemas, liderar com empatia e crescer com consciência.
É se conhecer a ponto de saber onde pode atuar com excelência. E, principalmente, é assumir a responsabilidade de seguir mesmo quando a maré vira.
Para os jovens que desejam trilhar esse caminho, vale o lembrete: o CNPJ pode ser um começo, mas o que realmente transforma alguém em empreendedor é o propósito, a persistência e a coragem de agir com autenticidade.