Enquanto muitos acreditam que estão sendo avaliados pela entrega, a Geração Z sente que é o “fingimento de esforço” que garante respeito no trabalho presencial
Com a volta ao trabalho presencial, um novo comportamento começou a se destacar nos corredores das empresas: jovens da Geração Z estão, literalmente, fingindo que estão ocupados — mesmo quando suas tarefas já foram finalizadas. Isso não é preguiça, rebeldia ou falta de competência. É autodefesa emocional.
Após os longos meses de home office durante a pandemia, muitos jovens profissionais simplesmente não tiveram tempo de se ambientar ao formato tradicional de trabalho.
Eles entraram no mercado já inseridos no modelo remoto e, agora, precisam se adaptar a um sistema que nem sempre valoriza a eficiência, mas sim a presença física constante.
De acordo com uma pesquisa da plataforma de RH Workhuman, cerca de 36% dos jovens trabalhadores admitem que fingem estar trabalhando após já terem cumprido todas as suas obrigações.
Isso porque, ao terminarem cedo, a resposta mais comum dos líderes não é elogiar a agilidade, mas sim aumentar a carga de trabalho.
E aí surge o fenômeno conhecido como mascaramento de tarefas — a habilidade de parecer ocupado, mesmo estando com tempo livre. Essa prática tem se tornado uma forma de “sobrevivência silenciosa” no escritório.
O teatro da produtividade: quando a imagem importa mais que o resultado
Não é só uma questão de parecer produtivo. Para muitos da Geração Z, é uma resposta a uma cultura corporativa que ainda mede valor profissional pela quantidade de horas no escritório, e não pela qualidade da entrega.
Eles se sentem pressionados a manter a aparência de que estão sempre “na correria”, mesmo quando poderiam estar usando esse tempo livre para equilibrar vida pessoal e saúde mental.
O que surpreende é que essa prática não está restrita aos novatos. O estudo mostra que 38% dos executivos seniores e 37% dos gerentes de nível médio também fingem estar ocupados.
Ou seja, o problema é sistêmico: todo mundo finge que está super atarefado, mas no fundo, muitos já encerraram seus deveres.
A causa? Falta de propósito e reconhecimento real
Segundo especialistas ouvidos pela Fortune, como Victoria McLean, fundadora da consultoria City CV, o mascaramento de tarefas revela uma crise maior:
“Sua carreira não é construída com base nas horas passadas em sua mesa, mas nos resultados, nos relacionamentos e na reputação”.
Quando as empresas falham em reconhecer isso, criam ambientes onde o foco vira “ser visto”, e não ser eficiente.
A Geração Z, diferente das anteriores, cresceu em um mundo onde autenticidade, equilíbrio e bem-estar emocional são prioridades. Fingir estar ocupado não é trapaça — é uma tentativa de evitar ser esmagado por uma cultura que ainda associa esforço a tempo e não a resultados.
A linha tênue entre o autocuidado e o burnout silencioso
A ironia é cruel: para evitar o estresse de receber mais tarefas, eles criam uma rotina disfarçada de ocupação… que gera ainda mais estresse.
A tensão de manter a aparência de produtividade vira um novo tipo de sobrecarga mental — invisível, mas exaustiva.
Jenni Field, fundadora da Redefining Communications, alerta: “Para que as pessoas estejam no escritório, deve haver um objetivo claro além de apenas serem vistas”.
Caso contrário, líderes e equipes precisam repensar a real função da presença física e resolver o que está alimentando o mascaramento de tarefas.
Fingir ou repensar?
O grande dilema é: vale a pena continuar fingindo? Ou já passou da hora de abrir diálogos honestos sobre o que realmente significa ser produtivo?
A Geração Z não está pedindo moleza.
Está pedindo respeito, reconhecimento e propósito. Se o ambiente de trabalho continuar forçando máscaras de produtividade ao invés de incentivar entregas reais e equilíbrio, muitos desses talentos vão buscar novos lugares — onde ser eficiente vale mais que parecer ocupado.