Interpretar uma mulher complexa ainda custa caro em Hollywood. E para a geração Z e Alpha, isso é mais do que entretenimento — é reflexo social.
A internet mais uma vez mostrou sua capacidade assustadora de transformar ficção em julgamento real — especialmente quando se trata de mulheres em papéis desafiadores. Madeline Brewer, conhecida por sua atuação marcante na série YOU, da Netflix, tornou-se alvo de uma onda misógina online simplesmente por interpretar uma personagem que foge do esperado: Brontë, uma figura intensa, contraditória e… real.
Lembra de quando Margot Robbie foi atacada antes mesmo de Barbie estrear? A atriz foi bombardeada por críticas da manosfera digital, que não aceitou a ideia de uma narrativa que questiona o olhar masculino como padrão universal de beleza feminina. O mesmo roteiro tóxico está se repetindo agora com Brewer — só que com novos alvos, novas plataformas e a mesma raiz: a misoginia.
O crime? Ser “antipática” na tela
Sim, você leu certo. O crime de Brewer não foi uma má atuação ou uma falha no roteiro. Foi simplesmente dar vida a uma personagem desagradável, complexa e provocadora. E isso parece ser inaceitável para uma parcela da internet que ainda acredita que o valor de uma mulher está diretamente ligado à sua aparência ou docilidade.
A reação foi rápida — e cruel. Instagram, X (antigo Twitter) e outras redes sociais se encheram de comentários ofensivos. Não apenas críticas ao papel, mas ataques pessoais, muitos deles recheados de preconceitos:
“Você tem queixo há dias.”
“Quantos anos você tinha quando começou sua transição?”
“Você estragou o show.”
“Ódio.”
A cada comentário, a misoginia escancarada se tornava mais clara. A atriz não estava sendo julgada apenas por sua performance, mas por ousar ocupar um espaço que não era feito para ela: o de uma mulher que não busca agradar.
Quando o ódio atravessa a tela
É assustador, mas também previsível. Assim como Sydney Sweeney e Fabien Frankel foram atacados após darem vida a personagens intensos em outras produções, Brewer agora enfrenta o mesmo fenômeno: a incapacidade coletiva de separar ator e personagem — principalmente quando se trata de mulheres.
Mais do que isso, há uma ideia enraizada de que toda mulher em destaque deve ser, acima de tudo, “bonita, simpática e doce”. Quando não corresponde a isso, os ataques não se limitam ao fictício, mas se voltam com força total para a atriz real, como se o público sentisse o direito de puni-la.
“É como um relógio, a misoginia confiável da internet.”
Essa frase de Joe Goldberg na própria série parece ter previsto tudo com precisão cirúrgica.
A resposta firme de Brewer
Diante de tantos ataques, Madeline Brewer não ficou calada. Em seu Instagram, ela respondeu diretamente aos comentários odiosos. Quando alguém disse que ela havia arruinado o programa, ela rebateu com firmeza:
“Não, eu não arruinei.”
E ao comentário maldoso sobre seu queixo, ela respondeu com classe:
“Eu tenho uma ótima estrutura óssea, obrigada.”
Essas respostas não são apenas defesas pessoais — são atos de resistência em uma indústria onde mulheres ainda precisam aguentar caladas para manterem seus espaços. E é exatamente por isso que vozes como a de Brewer são tão importantes, especialmente para as novas gerações que consomem esse conteúdo e estão moldando suas visões de mundo.
A beleza não pode ser exigência
O problema vai muito além de uma atriz atacada por seu papel. Estamos falando de uma cultura digital que ainda exige perfeição estética, docilidade e submissão feminina, mesmo em 2025. A tentativa de cancelar uma atriz por não atender às expectativas da audiência mostra que, apesar de todo o avanço, o caminho ainda é longo.
Grupos como a PETA já mostraram como a internet pode reagir quando os limites do bom senso são ultrapassados em nome do “conteúdo viral”, como no caso do gorila de MrBeast. Mas e quando o conteúdo viraliza às custas da saúde emocional de uma mulher?
Para a Geração Z e Alpha: isso é mais do que entretenimento
É essencial que os jovens da Geração Z e Alpha reconheçam os bastidores por trás do que assistem. O que parece apenas mais uma série na Netflix esconde discussões urgentes sobre machismo, cultura do ódio e a necessidade de humanizar quem está do outro lado da tela.
Madeline Brewer não é só Brontë. E, honestamente, o fato de tantas pessoas não conseguirem separar uma personagem de uma pessoa real diz muito mais sobre nós do que sobre ela.