Para os jovens de hoje, sucesso não tem mais a ver com status ou salário — e sim com saúde mental, equilíbrio e propósito.
Na era dos likes, dos reels e da constante busca por propósito, algo curioso está acontecendo nos bastidores do mundo corporativo.
Ao contrário do que muitos esperavam, os jovens da Geração Z não estão ansiosos para subir na carreira a qualquer custo. Eles querem sim evoluir, mas dentro dos seus próprios limites. O nome dessa nova mentalidade? Quiet Ambition, ou “ambição silenciosa”.
Longe de ser apatia ou preguiça, essa tendência representa uma nova forma de pensar sobre o sucesso. A ideia de que um bom profissional é aquele que sobe rápido na hierarquia, assume cargos de liderança e aguenta jornadas intermináveis está ficando no passado.
A geração Z, e até parte da geração Alpha que já começa a olhar para o futuro, está deixando claro: promoção não é prioridade quando a saúde mental está em jogo.
Enquanto nossos pais e avós viam o topo da escada corporativa como o único destino possível, os jovens de hoje querem algo diferente — algo que realmente faça sentido.
Eles preferem se manter em cargos que permitam conciliar a vida profissional com a pessoal, sem abrir mão do desenvolvimento, mas respeitando seu tempo e sua paz.
Segundo uma pesquisa da plataforma Visier feita com mil trabalhadores nos Estados Unidos, 38% não querem assumir cargos de liderança, e 62% preferem permanecer onde estão. O motivo?
Mais responsabilidade quase sempre vem acompanhada de mais estresse — e isso tem um preço alto demais. Um dado ainda mais revelador: 91% dos entrevistados disseram que o principal motivo para rejeitar promoções é o aumento do estresse e da carga de trabalho.
Essa escolha consciente mostra como a Geração Z está redefinindo o sucesso. Para muitos deles, ser bem-sucedido não é ser chefe — é ter tempo livre, estar bem emocionalmente e viver com propósito.
Não é mais sobre ter um crachá com um cargo pomposo, mas sim sobre fazer algo que se conecte com seus valores.
O Workmonitor 2024, relatório da Randstad, reforça isso: 51% dos profissionais estão dispostos a continuar no mesmo cargo, desde que se sintam motivados, e 60% afirmam que priorizam a vida pessoal em relação à profissional.
O equilíbrio é a nova moeda valiosa do mercado de trabalho.
Essa tendência é, de certa forma, uma reação ao modelo exaustivo das gerações anteriores. Como apontou o Wall Street Journal, o comportamento workaholic dos anos 90 e 2000 levou a uma epidemia de burnout. Hoje, o alerta está ligado, e ninguém quer repetir esse erro.
Mas isso traz desafios para as empresas. Afinal, como reter talentos se promoções não são mais atrativas? Como manter o engajamento se a antiga “cenoura” não funciona mais?
Um dado da OCDE mostra que, na Espanha, a média de permanência no emprego era de 10,6 anos em 2022 — mas entre os jovens, isso muda rapidamente. A Randstad revelou que 13% dos jovens trocaram de emprego nos últimos seis meses, e 28% pretendem fazê-lo até o fim do ano.
Essa instabilidade não é deslealdade, mas consequência de uma mudança de valores. Como explica María Carmen De la Calle Durán, especialista em Recursos Humanos, ao El Español:
“Quando um colaborador se compromete e se envolve com a empresa, ele espera o mesmo em troca. É por isso que a retenção de talentos tem se tornado um grande desafio para as organizações atualmente.”
A lealdade está cada vez mais atrelada à reciprocidade. Se a empresa não demonstra cuidado com o bem-estar do colaborador, ele vai procurar quem se importa. Simples assim.
Mais do que salário ou status, o que move essa geração são projetos significativos, desafios instigantes e espaço para aprender de verdade.
O Unlocking Organizational Success Report 2024, da consultoria Intoo, aponta que 84% da Geração Z preferem aprender novas habilidades do que receber uma promoção.
E mais: oito em cada dez se sentem mais motivados quando têm oportunidade de crescer pessoal e profissionalmente, mesmo sem mudar de cargo.
Já o InfoJobs mostrou que evitar a estagnação e trabalhar em algo motivador está entre os três principais motivos que fazem os jovens trocarem de emprego. A psicóloga María Felisa Latorre Navarro, em artigo no El Español, diz que:
“As pesquisas indicam que eles se movem por motivadores intrínsecos. Ou seja, preferem trabalhos que tenham vontade de realizar — não pelo salário ou pela possível estabilidade, mas pelas funções em si.”
É uma mudança profunda, que exige revisar não apenas as estratégias de liderança, mas o próprio conceito de sucesso profissional. A geração Z — e a Alpha que está chegando — não quer mais se matar de trabalhar para ter uma vaga na sala do chefe.
Eles querem sentido. Querem conexão. Querem trabalhar para viver, não viver para trabalhar.
E talvez, só talvez, essa seja a revolução silenciosa mais poderosa de todas.